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Processo mental.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Olha, eu estou te escrevendo só pra dizer que se você tivesse telefonado hoje eu ia dizer tanta, mas tanta coisa. Talvez mesmo conseguisse dizer tudo aquilo que escondo desde o começo, um pouco por timidez, por vergonha, por falta de oportunidade, mas principalmente porque todos me dizem que sou demais precipitado, que coloco em palavras todo o meu processo mental (processo mental: é exatamente assim que eles dizem, e eu acho engraçado) e que isso assusta as pessoas, e que é preciso disfarçar, jogar, esconder, mentir. Eu não queria que fosse assim. Eu queria que tudo fosse muito mais limpo e muito mais claro, mas eles não me deixam, você não me deixa.


(Caio Fernando Abreu)



Álbum de retratos.

Tudo isso me perturbava porque eu pensara até então que, de certa forma, toda minha evolução conduzira lentamente a uma espécie de não-precisar-de-ninguém. Até então aceitara todas as ausências e dizia muitas vezes para os outros que me sentia um pouco como um álbum de retratos. Carregava centenas de fotografias amarelecidas em páginas que folheava detidamente durante a insônia e dentro dos ônibus olhando pelas janelas e nos elevadores de edifícios altos e em todos os lugares onde de repente ficava sozinho comigo mesmo. Virava as páginas lentamente, há muito tempo antes, e não me surpreendia nem me atemorizava pensar que muito tempo depois estaria da mesma forma de mãos dadas com um outro eu amortecido — da mesma forma — revendo antigas fotografias. Mas o que me doía, agora, era um passado próximo.


(Caio Fernando Abreu)






Uma lembrança qualquer.

Mas se eu tivesse ficado, teria sido diferente? Melhor interromper o processo em meio: quando se conhece o fim, quando se sabe que doerá muito mais -por que ir em frente? Não há sentido: melhor escapar deixando uma lembrança qualquer, lenço esquecido numa gaveta, camisa jogada na cadeira, uma fotografia – qualquer coisa que depois de muito tempo a gente possa olhar e sorrir, mesmo sem saber por quê. Melhor do que não sobrar nada, e que esse nada seja áspero como um tempo perdido.


(Caio Fernando Abreu)



E tenho dito.
segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Às vezes a gente tenta fazer com que se possa lembrar com um certo afeto os momentos já vividos. A gente tenta colocar na cabeça que nada foi em vão e que tudo, de uma certa forma, valeu à pena. A gente faz de tudo para que as coisas fiquem bem, mesmo com todos os acontecimentos que vieram à tona de uma forma abrupta. Às vezes até ficamos com sentimento de culpa por uma coisa ou outra que não deu certo. Infelizmente não são todas as pessoas que têm maturidade para saber levar certas situações. Não que eu me ache a maturidade em pessoa, pelo contrário, tenho plena consciência de que tenho muito o que aprender com a vida. O que quero dizer, é que tem gente que passa dos limites para querer mudar uma coisa que bem la no fundo sabe que é imutável. E pior é que você sabe que quanto mais você se incomoda, menos você encontra a solução para essa tentativa frustrada que a outra pessoa está tomando. Depois de um milhão e meio de conversas e acordos, e da repetição da frase "vai ficar tudo bem" por que cada um não vive sua vida? Ai vem a vontade quase incontrolável de falar tudo o que temos vontade, sem medo de magoar. Culpa da raiva, da falta de paciência, da intolerância com tamanha infatilidade. Só uma coisa: você que faz tudo para estar próximo de uma pessoa, avalie suas atitudes. Você pode estar afastando-a cada vez mais.

Tanta coisa engasgada pra falar, prestes a sair. Mas não aqui.


(Samila Barbalho)



SAMILA BARBALHO
Como Tudo Deve Ser.


Porque também me acontece – como pode estar acontecendo a você que quem sabe me lê agora - de achar que tudo isso talvez não tenha a menor graça. (Caio Fernando Abreu)


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